sexta-feira, 18 de abril de 2014

CVC, eu te amo

A grande vantagem de viajar corrido é que fica sempre a vontade de voltar. Com todas as interpretações cabiveis, a sensação é bem mais familiar e aconchegante do que quando eu fico num lugar até gastar. Talvez só minha inabilidade de lidar com meus desejos e blá blá. 
Fato é que Veneza fica como o mais novo lugar onde se há muito pra fazer e pra não fazer. Muito tempo pra gastar olhando os canais, muitos museus e igrejas pra ver, muito pra aprender sobre a história da cidade. E assim, na fantasia, ou na alegria, fica bem forte a certeza de conhecer essa cidade maravilhosa, extraordinária, com tanto a ser descoberto, tanto que será exatamente de encontro aos desejos conhecidos e aos potenciais ainda não descobertos, tanto a decorar do trajeto dos vaporettos, apartamentos a descobrir e a curtir, a viver rotina, conhecer vizinhos, odiar vizinhos, dormir, correr, se entediar, enfim, viver o que é vida normal, ou melhor, viver a melhor vida normal que se pode imaginar, que é exatamente essa que só joga a gente onde a gente pode cair, e levantar. Fica a Veneza dos caminhos, incríveis, de água, fechados ou abertos pra reforma ou por atalhos, subindo ameacadoramente na maré cheia, mantendo sempre presente a possibilidade de que tudo se acabe, ou se transforme, não sei se dá a certeza que a gente se adapta ao que é novo ou que a gente consegue procurar em outro lugar o que continua precisando de igual. Talvez toda viagem incrível acabe assim, como essa que não acabou ainda, e assim acomoda melhor ainda esses fins quase lamentosos. A cidade que promete ser explorada, a vida nova pela frente, as roupas velhas que ficaram em casa com tudo o mais que já não cabe. Os planos, a certeza, se eu dizer fé vão querer me internar achando que é mania com delírio místico, mas é que fé não é mais do que essa certeza de que há muita coisa boa ainda pelo caminho, e que pode muito bem se enganar e não tem compromisso algum com a "realidade". Um estado de espírito, pelo qual a gente paga milhares de moedas, um monte de milhas, outro tanto de planejamento e de coragem, um pouquinho, mas o suficiente, e necessário, de arriscar, de sair, de tirar férias de verdade, de mudar o filtro, de trocar de roupa, de andar diferente. Um monte de analogias válidas, mas seguimos viagem.